As esculturas e as pinturas apresentadas na exposição Além Tesouro, questionam as relações estéticas e indagam sobre os modos de fruição presentes na Arte Contemporânea.
As pinturas apresentam pessoas a verem pinturas, num efeito mise en abyme, que acondiciona qualquer novo observador na contemplação de objetos artísticos. As esculturas assumem-se como fragmentos humanos, objetos mundanos e referências quotidianas ou, ainda como elementos não figurativos, sendo que todo o conjunto escultórico, habita e ocupa o espaço expositivo, criando em paralelo com as pinturas uma alargada instalação de incontáveis relações e interpretações.
O título da exposição contém múltiplas leituras: a palavra “Além” remete-nos para o arquétipo do artista criador/demiurgo que vislumbra, transmite e alude à noção de eternidade e para uma literal referência à região do Alentejo, em que por sua vez, a colaboração com o Museu da Luz representa um exemplo de uma efetiva dinâmica de descentralização/desconcentração no acesso à cultura para lá dos espaços e sistemas de funcionamento dos centros-artísticos estabelecidos; a palavra “Tesouro” corresponde ao sentido da Arte, enquanto lugar de estímulo da sensibilidade estética/crítica que abre caminho ao prazer da descoberta e ao valor da acumulação de riquezas (adiante dos aspetos materiais) que devem existir em cada contacto com a obra-de-arte.
José Batista Marques